quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Treinamento Concorrente

Esse é um trabalho que eu fiz na epoca de faculdade sobre esse tema que é muito discutido.Espero que vocês gostem!




TREINAMENTO CONCORRENTE


Várias modalidades esportivas exigem a estruturação de programas de treinamento que combinem a força e a resistência aeróbia para a otimizar seu rendimento em jogos e competições. Essa otimização depende do tipo, da intensidade, da duração e da freqüência de treinamento. No entanto, além dessas variáveis de carga de treinamento, o desenvolvimento específico da resistência aeróbia ou da força também depende se elas estão combinadas no mesmo período de treinamento.
A literatura internacional tem adotado com freqüência a terminologia treinamento concorrente (TC) para se referir aos programas que combinam treinamento de força (TF) e de resistência aeróbia (TRA) num mesmo período de tempo, assim como as possíveis adaptações antagônicas produzidas pelo treinamento dessas duas capacidades motoras .
apresentaram em sua revisão três possíveis mecanismos relacionados ao efeito da concorrência, que foram: a) a hipótese crônica, na qual se propõe a idéia que algumas adaptações morfo-funcionais ocasionadas pelo treinamento  exclusivo da resistência aeróbia são distintas quando comparadas ao treinamento de força per se; b) o overtraining, isto é, o organismo não assimilaria um grande volume de treinamento para as duas capacidades motoras; c) hipótese aguda, na qual após uma sessão de treinamento de resistência aeróbia haveria uma fadiga residual que comprometeria o treino de força na sessão subseqüente .

Hipótese do Efeito Crônico.

Baseado no princípio da especificidade, o Treinamento de Força  provoca adaptações morfo-funcionais específicas e diferenciadas quando
comparadas às adaptações que advêm do Treinamento Resistência Aeróbia  .Em geral, as adaptações resultantes de um programa de Treino de Força incluem aumento da massa corporal magra, aumento da massa óssea, melhora na coordenação inter- e intra-muscular e aumento da área de secção transversal das fibras musculares do tipo I, IIa e IIb .
Já o Treino de Resistência Aeróbia  aumenta o consumo máximo de oxigênio (VO2máx), a atividades das enzimas oxidativas, os estoques de glicogênio intramuscular, a densidade e capacidade mitocondrial dos músculos, melhora a capacidade de difusão pulmonar, o
débito cardíaco, a densidade capilar e o controle da saturação da hemoglobina levantaram a hipótese de que, dependendo da intensidade do treino aeróbio , as adaptações podem ser
mais centrais ou periféricas. Isto é, em intensidades mais baixas de treinamento (60-80% do VO2max), as adaptações fisiológicas parecem ocorrer mais no componente central (adaptação cardiovascular). Já as adaptações periféricas predominariam quando oorganismo entrasse em um estado de hipóxia muscular durante o exercício aeróbio de alta intensidade (> 90% do VO2max).
O Treino de Força de alta intensidade (1-5RM) resultaria melhorias no componente central (adaptação neural). Já o treino De Força envolvendo programas com intensidades menores (8-12RM) também estariam relacionados às adaptações periféricas.
Kraemer et al. (1995) sugerem que para estimular a hipertrofia muscular, a carga tem de ser abaixo de 90% de um 1RM.
Os mesmos autores sugerem que programas de treinamento que utilizem altas cargas e baixo volume (1-6 RM) promoveriam
uma maior adaptação neural. Por outro lado, sugerem que a hipertrofia muscular é produzida com cargas mais baixas e maior
volume (8-12 RM), ocorrendo assim um aumento da síntese de proteína na fibra muscular.
descreveram que esses diferentes programas de treino de força  combinados com programas de Treino aeróbio podem recrutar diferentes tipos de unidades motoras. O treinamento aeróbio de alta intensidade (> 90% VO2max) recrutaria mais as unidades
motoras compostas de fibras do tipo II. Já os protocolos de treino de força  acima de 70% de 1RM também recrutariam as fibras do tipo II.
Sendo assim, a combinação desses dois protocolos pode produzir um estresse maior no mesmo tipo de fibra, não lhe dando um tempo adequado para adaptar-se ao aumento de força e da resistência aeróbia.
O modelo apresentado não se mostra totalmente efetivo, pois estudos que combinaram programas de Treinamento concorrente  fora dessa zona de interferência também demonstraram efeito de concorrência. estruturou exercícios que envolviam séries de 5RM e demonstrou uma atenuação no desenvolvimento da força programaram exercícios de 2-10 RM combinados com exercícios aeróbios intervalados de alta intensidade e não demonstraram nenhum efeito de concorrência.
De fato nos estudos de Treino concorrente  há uma grande variação dos programas treinamento que demonstram resultados controversos.
Esses dados nos levam a concluir que não é somente uma zona de treinamento que explicaria o efeito da interferência no Treinamento concorrente .
Há muito tempo se evidencia que o treino de força  pode causar decréscimo na densidade capilar) e na densidade mitocondrial Esses são fatores que poderiam prejudicar o desempenho da resistência aeróbia. Por outro lado, demonstraram que o treino aeróbio  causaria uma atenuação da hipertrofia muscular, sendo esse um fator que poderia prejudicar o aumento da força.
Recentemente, Putman et al. (2004) demonstraram que o Treinamento concorrente  resultou numa maior transição de fibras rápidas para lentas e que também houve uma atenuação da hipertrofia das fibras musculares do tipo I quando comparado ao treino de força isolado. Além disso, demonstraram haver uma conversão mais evidenciada no continuum das fibras musculares para o tipo IIa e uma redução mais acentuada nas fibras tipo IIb quando comparado às adaptações do treino aeróbio  isolado.
Na hipótese crônica do treino concorrente  acredita-se que as adaptações ocasionadas pelo treinamento dessas duas capacidades motoras de forma isolada é que causariam o efeito de diminuição na força ou no rendimento aeróbio uma vez que algumas dessas adaptações podem ser consideradas como antagônicas para o rendimento dessas capacidades.

Hipótese Do Overtraning

Alguns  autores Levando essa hipótese do Overtraning com o excesso de treino tanto de força quando de resistência aeróbia  com isso ocorreria a diminuição do glicogênio muscular e alterar as propriedades mecânicas do músculo, prejudicando o rendimento durante o treino de força. Além disso, a somatória das cargas resultaria num volume de treinamento elevado gerando um estado de fadiga. Nesse sentido a falta de recuperação adequada pode gerar o efeito da concorrência.
Kraemer et al. (1995) sugerem que apenas um alto volume de TC seria capaz de criar ambiente catabólico levando  o sujeito ao estado de overtraining. Nesse sentido outros estudos também demonstraram que programas de TC com freqüência de três vezes por semana pode não ser suficiente para criar esse ambiente catabólico a fim de interferir no desempenho da força (McCarthy et al., 1995; McCarthy et al., 2002. Hunter et al. (1987) demonstraram que um grupo de corredores de longa distância destreinados em força não sofreu efeito da concorrência como aconteceu no grupo de sedentários que fizeram o mesmo protocolo de três vezes por semana de TC.
Existem vários marcadores de overtraining que têm sido utilizados para identificar se a carga de treinamento está ou não adequada a um determinado grupo de sujeitos. Entretanto, as respostas endócrinas da testosterona e do cortisol têm sido as
mais usadas como marcadores de anabolismo e catabolismo nos programas de TC (Bell et al., 1997; Kraemer, et al., 1995;
McCarthy et al., 2002). Quando se trata do TRA observa-se que o nível de testosterona não tem uma resposta homogênea. Há estudos que demonstraram aumento, outros apresentaram diminuição ou manutenção da concentração desse hormônio quando comparados a valores pré- treinamento demonstrado alteração na razão testosterona/cortisol, a favor do anabolismo,ou seja, um maior aumento na concentração de testosterona quando comparada a concentração de cortisol.
Submeteram 40 militares a um protocolo de TC, considerado por eles de alto volume e intensidade.
Os sujeitos foram divididos em quatro grupos: o grupo S que treinou somente força, o grupo E que treinou apenas a resistência aeróbia; o grupo C que realizou o TC; o grupo UC, que também realizou o TC, porém com treinamento de força constituído apenas de exercícios para membros superiores. Ao final de 12 semanas os autores observaram que o nível de repouso de testosterona permaneceu inalterado nos grupos UC, E e S, ocorrendo um aumento significativo no grupo C na 12ª semana de treinamento. Por outro lado, houve um aumento nos níveis de cortisol nos grupos C, UC e E deixando a razão testosterona/cortisol em um estado catabólico. Apenas o grupo S demonstrou reduções significantes no nível de cortisol, criando um estado anabólico. Os autores concluíram que um grande volume de TC, durante 12 semanas, pode resultar em um
indesejável aumento no nível de cortisol, o qual poderia comprometer os ganhos de força, potência e massa musculares.
A questão do gênero também deve ser levada em consideração quando protocolos de TC são usados, pois o nível de cortisol se apresenta mais elevado nas mulheres quando comparado com os homens submetidos ao mesmo protocolo de treinamento.
Alguns autores têm sugerido que mulheres podem ser hipercortisólicas  , e este
fenômeno poderia ser potencializado com o protocolo de TC . Além disso, a ausência de alteração no nível de testosterona, associado ao nível elevado de cortisol em mulheres, levaria a uma diminuição da razão testosterona/cortisol criando estado favorável para o aparecimento do overtraining.
Sendo assim, torna-se necessário considerar o nível de treinamento, gênero, e períodos de recuperação suficientes na montagem de protocolos de TC para que os sujeitos não entrem no estado de overtraining.

Hipótese  Do Efeito Agudo

 O efeito agudo do exercício aeróbio prejudicaria o grau de tensão desenvolvido durante a sessão de TF. Conseqüentemente, o estímulo para o desenvolvimento de força seria menor, quando comparado com a sessão de força não precedida por atividade de caráter aeróbio.Estudos mostram que o treino aeróbio apresenta um queda na força significativa depois de um treino intenso aeróbio concluíram que a queda aguda na produção de força após o exercício aeróbio pode comprometer o desenvolvimento de força durante o TC.
Também relataram que o desenvolvimento de força dos membros inferiores foi comprometido quando os indivíduos realizavam sessões de corrida antes das sessões de treino de força, no entanto isso não ocorreu nos membros superiores. Os autores sugeriram que o desenvolvimento de força dos membros inferiores foi comprometido, devido à fadiga induzida pelo exercício aeróbio. E tanto faz o treino aeróbio continuo ou intervalado  a uma queda de 4% na força de ambos no teste de 1RM no exercício de extensão dos joelhos após o exercício aeróbio.
Os estudos anteriores, Sporer e Wenger (2003) também verificaram uma redução no número máximo de repetições a 75% de 1RM até oito horas depois de dois tipos de atividade aeróbia (intervalado com alta intensidade e contínuo com intensidade moderada). Os autores também demonstraram que houve uma recuperação completa após 24 horas de descanso da atividade aeróbia para o teste de repetições máximas.
A queda na produção de força tem sido atribuída a muitos fatores, desde a falta de tempo para musculatura se recuperar (Craig et al., 1991; Sporer & Wenger, 2003) até a diminuição na sua ativação (Bentley et al., 2000). Bentley et al. (2000) reportaram não só uma queda na produção de força imediatamente e seis horas após o exercício aeróbio realizado em cicloergômetro, mas também um aumento no déficit de ativação muscular em ciclistas.
Por outro lado, também há estudos controversos em relação à interferência aguda. Leveritt et al. (2000) não acharam queda significante na produção de força em universitários, com exercício de força sendo realizado oito e 32 horas após 50 min
de atividade aeróbia em cicloergômetro com cargas variando de 70 a 110% da potência crítica.
Diante dessa hipótese aguda, a ordem da sessão do TF e do TRA dentro do treinamento concorrente poderia afetar o desenvolvimento de uma capacidade ou de outra. Com essa preocupação, Collins e Snow (1993) procuraram verificar se a ordem das sessões interferiria no desenvolvimento da força ou da resistência aeróbia. Os autores estruturaram um protocolo de treinamento de três vezes por semana, no qual um grupo fazia primeiro o TF seguido do TRA e o outro grupo fazia o inverso. Os resultados revelaram que ambos os grupos não apresentaram diferenças estatísticas no desempenho
da força e da resistência aeróbia, independente da ordem das sessões. Porém, não está claro se esta redução aguda após a sessão aeróbia é um fator determinante no desenvolvimento de força atípico durante o TC. Mais estudos investigando a ordem das sessões e o tempo de recuperação adequado, se faz necessário para melhor compreensão dessa hipótese.

Conclusão Final

Diante disso, pode-se fazer algumas considerações de aplicação prática na elaboração de protocolos de TC com diferentes
objetivos:
1- nenhum dos estudos apresentados demonstrou haver efeito de concorrência na resistência aeróbia até a décima semana de treinamento. Os programas de TC se mostraram mais efetivos para melhorar a resistência de força, o tempo de exaustão numa atividade aeróbia e a velocidade da corrida de longa distância quando comparados ao treinamento exclusivo de força ou de resistência aeróbia. Portanto, se o objetivo do treinamento é a melhora desses fatores, o TC é essencial.
2- por outro lado, se o objetivo for a melhora da força máxima, ou da potência muscular deve-se tomar alguns cuidados na estruturação do treinamento como: a) treinar força e resistência aeróbia em dias alternados; b) se a sessão de treinamento
das duas capacidades motoras for no mesmo dia (não é indicado), treinar a sessão de força primeiro e deixar para treinar força dos membros superiores no dia da sessão aeróbia; c) procurar não treinar o TC na zona de interferência proposta por Docherty & Sporer (2000); d) se o TC for com um grupo feminino os intervalos de descanso devem ser maiores uma vez que elas podem ser hipercortisólicas.
Por último, independentemente do objetivo do treinamento é necessário identificar o estado de treinamento do sujeito, pois as pesquisas também demonstraram que sujeitos destreinados parecem ser mais suscetíveis ao efeito da concorrência.

REFERÊNCIAS

FLECK,, Steven .Força : Princípios Metodológicos para o treinamento , primeira edição, Editora Phorte 2008.
FLECK, Steven. Fundamentos do Treinamento de força Muscular, 3 edição Editora Artmed  2006.
NAVARRO, Francisco: Manual da Musculação  2 Edição Editora Phorte 2005

Nenhum comentário:

Postar um comentário